As relações entre Brasil e Estados Unidos voltaram a ganhar contornos de tensão neste fim de semana após declarações polêmicas do secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick. Em entrevista à emissora NewsNation, o aliado próximo de Donald Trump afirmou que é preciso “consertar” o Brasil para que o país deixe de adotar medidas que, segundo ele, “prejudicam os EUA”.
Lutnick colocou o Brasil no mesmo patamar de Índia e Suíça, países que, de acordo com o secretário, “precisam reagir corretamente” às exigências de Washington. “Temos um monte de países para consertar, como Suíça e Brasil. Eles têm um problema. Índia. Esses são países que precisam abrir seus mercados, parar de tomar ações que prejudiquem os Estados Unidos. É por isso que estamos em desvantagem com eles”, declarou.
O impacto do tarifaço
O Brasil já sofre diretamente com as sobretaxas impostas por Trump desde agosto: tarifas de 50% sobre produtos nacionais que entram no mercado norte-americano. A medida afeta principalmente setores estratégicos, como o de agronegócio, maquinário e peças industriais.
A partir de 1º de outubro, uma nova rodada do chamado tarifaço passará a atingir também países como Alemanha, Japão, China, México e Reino Unido, com taxas que podem variar de 25% a 100% em medicamentos, caminhões pesados, móveis e itens de cozinha e banheiro.
Trump, em defesa da medida, alega proteger a indústria nacional e reforçar a “segurança econômica e nacional” dos EUA. Já Lutnick usou como exemplo a Suíça, destacando que um país “pequeno e rico” acumula déficit de US$ 40 bilhões com os Estados Unidos.
Lula e Trump: encontro marcado
Em meio às pressões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve se reunir ainda nesta semana com Donald Trump. O encontro foi anunciado após uma conversa informal entre os dois durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Segundo Trump, o diálogo com Lula será “franco e direto”. Apesar da retórica dura contra o Brasil, o republicano declarou que teve “ótima química” com o presidente brasileiro durante o breve encontro.
O encontro será a primeira conversa direta entre os dois líderes desde a implementação das sobretaxas. O Planalto avalia que a reunião será decisiva para tentar reduzir os impactos econômicos das medidas sobre exportadores brasileiros.
Bastidores políticos
A crise econômica se soma a tensões políticas. Trump, em seus discursos recentes, criticou abertamente o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, chamando-o de “perseguição política” e acusando o sistema brasileiro de “censura e corrupção judicial”.
Analistas avaliam que a postura de Trump tem um duplo objetivo: pressionar o governo Lula nas negociações comerciais e, ao mesmo tempo, reforçar sua narrativa interna de enfrentamento a governos que considera hostis ao conservadorismo.
Próximos passos
A expectativa agora se volta para a reunião entre Lula e Trump. Caso não haja acordo, especialistas projetam impactos significativos na balança comercial brasileira, principalmente em setores como o de carnes, soja e produtos industrializados.
Enquanto isso, a fala de Lutnick acendeu um alerta diplomático: o Brasil, tradicionalmente aliado estratégico dos EUA na América Latina, passa a ser visto pelo governo Trump como um “problema a ser corrigido”.
O Itamaraty, até o momento, não se manifestou oficialmente sobre as declarações do secretário norte-americano.
Fonte: Blog Olhar Digital