Nos últimos anos, observa-se uma mudança significativa em um cenário que antes era predominantemente masculino, agora sendo cada vez mais ocupado pelas mulheres. Hoje, segundo dados do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), quase metade dos pequenos negócios no Brasil são liderados por elas. E para a maioria das brasileiras que empreendem, liderar o próprio negócio é a realização de um sonho e a chance de conquistar a tão esperada independência.
Movida pela necessidade de adquirir independência dos pais e ter um estilo de vida que combinasse com sua personalidade, a brasiliense Anne Caroline Lima Martins, 28 anos, deu os primeiros passos para se tornar uma empresária de sucesso. Proprietária da empresa de dindim “Bom Te Ver Gourmet”, a empreendedora foi contemplada em primeiro lugar com o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, na categoria MEI (Microempreendedor Individual) em 2022.
O prêmio faz parte do Sebrae Delas – Desenvolvendo Empreendedoras Líderes Apaixonadas pelo Sucesso -, um programa de aceleração que visa aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e negócios liderados por mulheres. O programa, realizado pelo Sebrae no DF, busca valorizar as competências, comportamentos e habilidades delas, difundindo e profissionalizando o empreendedorismo feminino.
Mas, apesar de comemorar o sucesso da empresa, dar os primeiros passos para se tornar uma empreendedora nem sempre é uma tarefa fácil. Na verdade, nunca é. Empreender é assumir riscos e aceitar desafios. E desafios não faltaram na vida de Anne. “Aprendi que por ser mulher, eu precisaria me esforçar muito para ser levada a sério, e por ser uma mulher homossexual, eu precisaria me esforçar dez vezes mais para mostrar que sou competente e especialista no que faço”, relata a empresária.
Início
A empreendedora conta que foi por volta de 2018 que tudo começou. Por influência da família, Anne dedicava boa parte do seu tempo estudando para passar em concurso público. “Eu detestava”, diz ela. Cansada da rotina de estudos, e após ter concluído a faculdade de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos, área na qual nunca trabalhou, a empresária decidiu fazer seu próprio dinheiro e foi durante a festa de noivado de uma amiga que surgiu a grande oportunidade.
“Lá tinha dindins gourmets para os convidados. Peguei um, provei e gostei muito da ideia. Chegando em casa, corri para pesquisar receitas na internet, modo de preparo e até técnicas de vendas”, explica. Com um capital de apenas R$60, Anne comprou os ingredientes e preparou sua própria receita. Ela conta que a primeira demanda não saiu como esperava, mas, mesmo assim, conseguiu lucrar com as vendas e dar continuidade no negócio.
Com pouco capital social, mas com muita vontade de empreender, Anne relembra que durante meses vendeu os produtos de porta em porta, a pé, todos os dias pelas ruas da Ceilândia, cidade satélite de Brasília. “Tomei muitos banhos de chuva e ouvi muitas piadinhas de mau gosto, mas me mantive firme nas vendas.”
Mas logo os desafios foram superados com empenho e força de vontade. Com o sucesso das vendas, Anne comprou uma bicicleta para auxiliar nas entregas e abriu uma página nas redes sociais, por onde passou a atender por encomenda. A demanda aumentou e o negócio foi expandido para além dos limites da Ceilândia. “Meu pai passou a me ajudar com 95% das entregas, porque eram em vários lugares e um mais distante que o outro”, conta.
Crescimento
Depois de quase três anos vendendo por delivery, Anne juntou dinheiro, saiu da casa dos pais e foi morar em Águas Claras com a namorada Rebeca Satie Takechi, 31 anos, que hoje é responsável por ajudar nas entregas, produção e compra de insumos. Com muito trabalho e amor envolvido, o casal viu a empresa crescer e juntas superaram os preconceitos.
“Ao longo desses anos vendendo os dindins, ouvi comentários homofóbicos e também vi vários clientes que eram frequentes se afastando após verem minha companheira nas redes sociais. Durante o meu empreendimento, já enfrentei várias situações chatas por conta da minha orientação sexual, mas nunca me deixei abalar com nenhuma delas”, desabafa Anne.
Apoio do Sebrae
Hoje, a “Dindin Bom Te Ver Gourmet” dispõe de quatro freezers espalhados em comércios de Brasília. A meta, segundo Anne, é ver a marca presente em todas as cidades satélites do Distrito Federal. Mas, para a realização desse sonho, a empresária sentiu a necessidade de buscar apoio profissional. “O Sebrae me entregou não só partes teóricas, mas também a experiência dos consultores que empreendem e conhecem muito bem minhas dores e necessidades”, explica.
Por meio de atendimento especializado do Sebrae no DF, a empresária relata que recebeu mentoria de gestão financeira, com ensinamentos básicos, mas que foram eficientes e importantes na gestão do negócio. Ela também participou de uma mentoria em planos de vendas, que foi fundamentais para a expansão da empresa. “O Sebrae me ajudou a ‘colocar ordem na casa’. Os consultores realmente abraçam os empreendedores e estão dispostos a ajudar”, afirma Anne.
O negócio
De forma simples, Anne conta que após fechar contrato com o comércio interessado em revender seus produtos, ela disponibiliza um freezer com a marca Bom Te Ver, monta um cardápio com os seis sabores mais procurados, faz a quantidade de dindins que a empresa quer revender e leva tudo isso ao estabelecimento. Toda a parte de abastecimento, manutenção e estética do equipamento também é de responsabilidade dela.
Com mais de 20 sabores disponíveis, como cheesecake de goiabada, pamonha doce, alfajor, brownie, churros, e caipirinha, a empresária destaca que os mais procurados são os dindins do Príncipe – feito com brigadeiro branco e blend de Nutella -, e Bala Baiana – produzido com coco e caramelo de pudim -, carro chefe da empresa. Todos os sabores e mais informações sobre a Bom Te Ver, estão disponíveis no Instagram da marca (@dindinbomtevergourmet) ou pelo WhatsApp (61) 98186-2525.