O cenário político brasileiro volta a ser sacudido por uma sequência de denúncias que atingem diretamente a Câmara dos Deputados e, em paralelo, colocam o governo Lula na defensiva diante da recém-instalada CPMI do INSS.
De um lado, o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), enfrenta acusações graves de suposta prática de “rachadinha” em seu gabinete. Do outro, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) se vê no centro de uma investigação que já revelou indícios de fraude em aposentadorias, descontos irregulares e possíveis conexões com entidades ligadas ao PT.
Hugo Motta sob suspeita
O Ministério Público solicitou ao Tribunal de Contas da União (TCU) abertura de investigação contra o deputado Hugo Motta após reportagens apontarem movimentações suspeitas envolvendo assessores parlamentares. Segundo a denúncia, Ivanadja Velloso Meira Lima, chefe de gabinete de Motta, teria recebido procurações para movimentar salários de pelo menos dez servidores, resultando em saques e transferências que ultrapassam R$ 4,1 milhões.
A suspeita é de que parte dos vencimentos fosse desviada para terceiros, prática conhecida como “rachadinha”. O subprocurador-geral Lucas Furtado também pediu verificação de possíveis funcionários fantasmas e acúmulo irregular de cargos.
Em paralelo, o ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, apresentou notícia-crime à PGR, pedindo que a conduta de Hugo Motta e de sua chefe de gabinete seja investigada com profundidade.
O caso ganhou ainda mais repercussão após vir à tona a nomeação de Jerônimo Arlindo da Silva Júnior, o “Júnior do Peixe”, ex-assessor de Motta e ex-diretor de entidade investigada na chamada “Farra do INSS”. Ele assumiu recentemente cargo na Secretaria de Agropecuária e Pesca do governo da Paraíba, reforçando suspeitas sobre um poderoso grupo político que conecta Brasília e a Paraíba.
A CPMI do INSS e a crise no governo Lula
Enquanto isso, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS já nasce cercada de tensão. A oposição conseguiu a presidência e a relatoria, impondo derrota ao governo, que tenta reorganizar sua base para conter os danos.
Reportagens revelaram que o próprio INSS retirou do ar um relatório que apontava aposentados enganados e descontos irregulares para entidades ligadas ao PT. O episódio aumentou as pressões sobre o Palácio do Planalto e levou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a convocar uma reunião de emergência com a base aliada para alinhar estratégias diante da comissão.
A presença de Sergio Moro promete incendiar ainda mais os trabalhos. O ex-ministro da Justiça afirmou estar disposto a depor e declarou ser “especialista em desmontar esquemas de roubo do PT”. Segundo Moro, há informações concretas sobre como funcionariam supostas fraudes ligadas a sindicatos e ao próprio INSS.
Em meio à guerra de narrativas, o deputado Giovani Cherini já alertou que qualquer tentativa de vazamento seletivo de informações para favorecer a esquerda resultará em expulsão de jornalistas da CPMI, o que ele classificou como garantia de que “a imprensa não está acima da lei”.
Reflexos políticos e riscos institucionais
A sobreposição de escândalos de um lado, a suspeita de rachadinha no coração da Câmara; de outro, a farra do INSS e sua CPMI explosiva escancara um momento delicado para a política brasileira.
De um lado, o Republicanos, partido de Hugo Motta, precisa explicar a teia de relações entre assessores, aliados e movimentações financeiras suspeitas. De outro, o PT se vê na obrigação de conter os estragos de uma CPMI que pode trazer à tona um sistema de irregularidades diretamente associado à imagem do partido e, por consequência, ao governo Lula.
Enquanto isso, a oposição já se articula para transformar a CPMI em palco de desgaste político contra o Planalto. Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros parlamentares da direita se posicionam como protagonistas dessa ofensiva.
O que está em jogo
Os dois casos Hugo Motta e a CPMI do INSS podem se entrelaçar em um duro golpe de credibilidade contra instituições que já enfrentam desconfiança popular.
Se confirmadas as denúncias, o Brasil pode estar diante de um dos maiores escândalos políticos da última década, com impactos que vão muito além do Congresso e atingem diretamente a imagem do governo federal, já fragilizada pela perda de espaço em uma comissão que promete expor os bastidores da máquina pública.
Fonte: Blog Olhar Digital