Deputados governistas agora prometem “dedurar” apadrinhados do Centrão esquecendo apenas que foram eles mesmos que abriram a porteira.
Em Brasília, o roteiro político parece mais uma comédia de bastidor do que uma reunião de governo. Após meses de distribuição generosa de cargos entre aliados, os próprios deputados governistas, especialmente do PT, resolveram reclamar que o Centrão está comendo demais no banquete. Ora, senhores, quem preparou o jantar?
Segundo apuração, parlamentares da base prometem levar à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, uma lista dos “traidores” deputados que votam contra o governo, mas continuam com cargos em estatais e diretorias. A ironia? Foram os próprios governistas que ajudaram a colocar boa parte desses nomes lá.
“Querem dedurar quem tem cargo e vota contra o governo”, resume um observador político. “Mas ninguém quer dedurar quem vota a favor e também não faz nada.”
O governo que distribui, reclama e depois reavalia
O governo Lula segue tentando reorganizar sua base, mas o problema é antigo: distribuir cargos é fácil, administrar vaidades, nem tanto. É o velho dilema do petismo pragmático dividir para somar, e depois reclamar da soma.
Enquanto isso, o governador (no caso, o Planalto) ganha no STF, mas perde na planilha dos cargos. O Centrão continua firme, empoleirado nas diretorias da Codevasf, nos Correios e em toda estatal que tenha uma sala com ar-condicionado e crachá.
Nos corredores de Brasília, já se fala em “dedurismo institucionalizado”: cada deputado chega com sua lista de quem merece ser punido como se o governo não soubesse exatamente quem são os comensais do seu próprio banquete.
A nova novela: “Os Dedurados do Planalto”
A protagonista? Gleisi Hoffmann, claro. A ministra agora precisa administrar uma espécie de Big Brother político, com deputados fazendo paredão de cargos. Quem traiu o governo na última votação? Quem não bateu palma o suficiente no discurso do Lula? Tudo pode virar motivo de eliminação.
Um dos mais citados é o deputado Dal Barreto (União-BA), que, mesmo tendo votado contra o governo, ainda mantém influência nos Correios e na Codevasf. Outro é Paulo Azi (União-BA), presidente da CCJ a joia da coroa na Câmara.
Mas, convenhamos: se o PT e aliados realmente quiserem cortar todos os “infiéis” com cargos, vai sobrar espaço até pra estagiário indicar amigo.
No fim das contas…
O governo tenta se reorganizar, o PT ameaça entregar lista, o Centrão finge que não é com ele e o país continua na mesma marcha: a do toma-lá-dá-cá, com choro, deduragem e reuniões a portas fechadas.
O mais curioso é que o Planalto age como quem emprestou o carro, viu o tanque voltar vazio e ainda reclama do motorista.
Ou, como diria um assessor espirituoso ouvido em off:
“O governo deu os cargos, perdeu o controle e agora quer fazer boletim de ocorrência contra ele mesmo.”
Entre cargos, queixas e ameaças, o governo mostra mais uma vez que seu maior adversário pode estar dentro da própria base. Afinal, ganhar voto no plenário é difícil mas perder cargo na Esplanada, parece, é muito mais dolorido.
Enquanto isso, o STF sorri. O governo ganha nas togas, mas tropeça nas pastas.
E Brasília segue seu ritmo: um espetáculo diário onde o roteiro é tragicômico, e o público, cada vez mais cético, assiste pensando “eles ainda não entenderam quem manda no jogo.”
Fonte: Blog Olhar Digital