Deputado Júlio César contra a imposição do gênero neutro no país. AMIGUES E TODES?

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A gramática é a arte de remover as dificuldades de uma língua; mas a alavanca não deve ser mais pesada que a carga. By : Reinado Polito.

Um grande problema de comunicação a vista. 

TODES E AMIGUES? A TV Globo decidiu que a novela Cara e Coragem, prevista para estrear em maio do ano que vem, adotará a chamada ” Linguagem Neutra ” em algumas de suas cenas.

O Deputado Federal Julio César Ribeiro (Republicanos), se manifesta sobre essa questão apresentando projeto de Lei 5422/2020 de sua autoria, a mesma vem à altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, para proibir a utilização de gênero neutro na língua portuguesa.

No projeto apresentado o deputado federal Júlio César defende a não utilização do pronome neutro nas escolas de todo país.

O projeto de lei tem por objetivo a proibição da
substituição do gênero masculino e feminino pelo gênero neutro, por considerar que em nenhum momento a modificação da língua portuguesa poderá beneficiar ou minorar os preconceitos existentes.

Como legislador, precisamos fortalecer o padrão da norma culta do português, como se tem feito desde a sua fundação, evitando que qualquer tipo de discursão que não agregue valor ou que prejudique o ensino nas escolas possam ser motivos desconstrução da democratização da linguagem. Ressalta o parlamentar autor da LEI. 

*Publicação por acessória de comunicação do Parlamentar.
Vamos compreender:
Entrevista com a Dra. Edna M. B. Perrotti.

Edna Maria Barian Perrotti, doutora em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua, professora de Linguística e Redação em importantes universidades e autora de vários livros sobre a matéria de sua especialidade. Uma de suas obras, “Superdicas para escrever diferentes tipos de texto”, superou a marca dos 100 mil exemplares vendidos, e foi publicada com sucesso na Itália. Suas respostas nos dão bons subsídios para refletirmos a respeito desse tema. Entrevista cedida ao portal UOL (2020).

Somos uma língua originada do latim, ou continuidade do latim, só que o latim, o clássico em especial, não fazia uso do artigo. Como, em português, o artigo é essencial, e é ele que determina o gênero gramatical (reforço: gênero gramatical, não gênero sexual), a substituição da tradicional marca de gênero masculino (-o) e feminino (-a) para (-e) ou (-x) (meninx bonitx) apenas na terminação das palavras, em nome de uma identidade inclusiva, caem por terra. Se for continuar a oposição o/a pelo artigo, não existirá neutralidade nenhuma.

Como a língua falada entra nessa história?

Essa é uma questão importante. Em primeiro lugar, porque a escrita é e sempre foi consequência da fala. E ninguém diz o menine é bonite ou a menine é bonite ou e menine bonite; nem formula a frase: médique, e farmacêutique, es terapeutes e e psicólogue estão em reunião; nem mesmo todes vão gostar deste suco.

A senhora acredita que esteja havendo algum equívoco nessa imposição?

Sim, pois se quem advoga a mudança está pensando numa identidade de gênero inclusiva é porque confunde gênero sexual (o homem/a mulher; o gato/a gata) com gênero gramatical, que serve para identificar não só pessoas ou animais de sexos diferentes, mas também seres inanimados, que não pertencem a nenhum gênero sexual (a casa, a roupa, o dia, o muro, o soluço, a noite, a rede, o pente).

Só para reforçar: gênero sexual (qualquer que seja a opção) e gênero gramatical são coisas diferentes. Se o artigo – ou qualquer outra palavra – precisar ser usado para indicar o sexo a que uma pessoa pertence (se se trata de homem ou mulher), voltamos à estaca zero. A distinção masculino/feminino continuará a existir.

Haveria outros impedimentos para essa mudança na terminação para -e, para -xou, ainda, para -@ na indicação do gênero?

Podemos acrescentar outra razão relevante. A gramática vem do uso natural da língua que utilizamos na comunicação. É necessário que um grande número de pessoas, mas um grande número mesmo, num processo natural e coletivo, utilize uma determinada forma para que depois a gramática a adote e a recomende.

Como a senhora poderia resumir essa questão?

Poderia resumir dizendo que é necessário muito tempo para que as palavras se modifiquem no tempo e/ou no espaço. A história de todas as línguas mostra e comprova que as mutações levam até mesmo séculos. Não é porque um indivídue – ou uma centene de indivídues – acha que tode brasileire é otimiste e crédule que a mudança vai acontecer amanhãNão. Por enquanto a gramática será poupada.

Por que a gramática deve ser poupada?

Simplesmente porque as marcas de feminino e plural, assim como as desinências verbais, são elementos gramaticais que fazem parte de uma lista fechada, que não admite mudanças, diferentemente do radical da palavra, que faz parte de uma lista aberta. Por exemplo, deletar é um verbo relativamente novo, ou seja, há um radical novo. Só que as suas terminações em todas as pessoas, tempos e modos são idênticas às do verbo amar. E mais: esse verbo surgiu naturalmente, pelo uso, não porque alguém impôs.

Diante dessas reflexões feitas pelo Deputado Federal Julio César Ribeiro (Republicanos), e Edna Barian Perrotti, podemos concluir que o assunto é mesmo muito complexo e controvertido.

Por isso, antes de sair por aí adotando modismos só para entrar na onda, é preciso refletir, estudar e acompanhar atentamente os debates a respeito desse tema. Finaliza ” Reinaldo Polito “.

Fonte: Blog Olhar Digital / Reinaldo Polito / Edna Maria Barian Perrotti / Grupo UOL.