Distrito Federal: Desigualdades de gênero, raça e renda marcam uso do transporte na capital

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Na capital do país, as mulheres andam mais de ônibus e a pé para irem ao trabalho do que os homens. O uso do transporte público coletivo pela população negra também é muito superior ao da população não-negra. Apesar da fama de ser uma cidade construída para carros, o maior ou menor uso de automóvel particular no Distrito Federal (DF) está diretamente relacionado ao tamanho da renda familiar, à região onde se vive, ao gênero e à cor de pele.

Essas informações constam no estudo “Como anda Brasília”, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a partir dos dados da última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD), que retrata os perfis do pedestre e de quem utiliza automóvel próprio ou ônibus para deslocamento. O trabalho está disponível na página do órgão na internet.

Segundo a pesquisa, os modos mais utilizados pelas mulheres para irem ao trabalho são ônibus (42,94%), automóvel (41,25%) e a pé (17,68%). No caso dos homens, o uso de automóvel para o deslocamento ao trabalho (52,11%) aparece em primeiro lugar, seguido do ônibus (34,11%) e a pé (11,88%).

Movimento intenso de ônibus na rodoviária do Plano Piloto
Movimento intenso de ônibus na rodoviária do Plano Piloto – Marcello Casal JrAgência Brasil

A posse de um automóvel no Distrito Federal também traz um forte marcador de desigualdade na renda. Cerca de 40% da população que vive nas áreas mais ricas da cidade, como Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte, possuem pelo menos dois ou três carros na garagem. Nesses bairros, cuja renda domiciliar média é de R$ 15.622, apenas 10,5% declaram não possuir nenhum carro. Já entre a população mais pobre da cidade, moradora de bairros como Itapoã, Estrutural, Paranoá e Recanto das Emas, quase a metade (46,7%) não possui um automóvel sequer em casa.

Muitos carros para poucos

Ipês-amarelos  florescem em  Brasília
Quem está no topo da pirâmide de renda em Brasília vai de carro para o trabalho – Marcello Casal JrAgência Brasil

Apesar de possuir uma frota de 1,2 milhão de carros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para uma população de 2,57 milhões de habitantes, os automóveis particulares fazem parte do uso cotidiano da população de renda média e alta, enquanto a população de baixa renda usa mesmo é o transporte público, de forma majoritária.

Para a faixa de renda de até um salário mínimo, os modos mais utilizados para deslocamento no DF são respectivamente ônibus (53,83% entre homens e 54,92% entre mulheres), a pé (23,27% entre homens e 31,70% entre mulheres) e automóvel (19,93% entre homens e 13,57% entre mulheres). Na faixa seguinte, de quem ganha entre um e dois salários mínimos, o ônibus continua sendo o transporte mais utilizado por todos (51,40% entre homens e  64,43% entre mulheres).

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Já quando se olha para o topo da pirâmide de renda, na faixa de quem ganha acima de dez salários mínimos, a grande maioria se desloca para o trabalho utilizando o automóvel, variando de 88% a 91%. Os percentuais de utilização dos outros modos de deslocamento, como ônibus e a pé, não passam de 9% para essa faixa de renda.

Moradores do Residencial Nova Jerusalém fazem protesto e fecham o Eixo Monumental. A manifestação causou um enorme congestionamento no trânsito da cidade (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Trânsito em Brasília – Antonio Cruz/Agência Brasil

População negra no ônibus

O levantamento da Codeplan também mostra que o ônibus é o principal modal de transporte para a população negra que vive no DF, utilizado por 43,8% dessa grupo, seguido do automóvel, utilizado por 39,6%. O cenário já se inverte quando comparado com a população não-negra, em que o automóvel é o principal meio de transporte (57,5%) e, em segundo lugar, o ônibus (30,4%).

A participação de negros na utilização de ônibus para deslocamento para o trabalho (66,1%) é o dobro da participação de não negros (33,9%) nesse modal de transporte na capital do país. Ainda em relação ao transporte coletivo, a pesquisa aponta o predomínio da população negra também no uso do metrô (54,4%), ainda que a participação da população não negra também seja razoável (45,6%). Quanto a outros deslocamentos, há prevalência da população negra também em relação à motocicleta (60,5%), ao deslocamento por bicicleta (67,6%) e a pé (66,2%).

Em Brasília motorista de ônibus utiliza máscara de proteção facial devido ao coronavírus
Em Brasília motorista de ônibus utiliza máscara de proteção facial devido ao coronavírus – Marcello Casal JrAgência Brasil

Dentro da população negra, há uma desigualdade verificada entre homens e mulheres no uso do transporte no Distrito Federal. O uso do automóvel para ir ao trabalho entre homens negros (31,7%) é bem superior ao de mulheres (16,5%), sendo o grupo de mulheres negras o que menos utiliza o automóvel para se deslocar para o trabalho.

“A maior participação de homens negros no deslocamento por ônibus, utilitário, motocicleta e bicicleta associa a questão racial com renda. E a associação entre maior renda com maior posse e maior uso do automóvel para deslocamento ao trabalho mostra ainda que não é apenas a posse de automóveis que garante que este seja usado no cotidiano dos grupos de menor renda”, aponta uma das conclusões do estudo.

Em outra das conclusões, a pesquisa confirma a disparidade entre gêneros no uso do transporte no DF: entre as mulheres, os modos a pé e ônibus são os mais utilizados e entre os homens o automóvel. Esse cenário que só se altera à medida em que as mulheres têm acesso a melhores empregos e passam a ter melhores rendimentos.

De acordo com a Codeplan, os dados analisados pela pesquisa devem subsidiar a elaboração de políticas públicas voltadas para a mobilidade, considerada um dos principais desafios de gestão no DF.

Fonte: Pedro Rafael Vilela/Agência Brasil-Brasília.