Descoberta feita por pesquisadores irlandeses revela comportamento atmosférico inédito em planeta isolado no espaço
O Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, fez mais uma descoberta surpreendente. Astrônomos do Trinity College Dublin, na Irlanda, analisaram o planeta errante SIMP-0136, localizado a cerca de 20 anos-luz da Terra, e constataram um fenômeno curioso: o astro está sendo literalmente “assado” pelas próprias auroras.
O estudo, publicado na revista científica Astronomy & Astrophysics no dia 26 de setembro de 2025, revelou que a atmosfera do SIMP-0136 apresenta uma inversão térmica — ou seja, as camadas mais altas são mais quentes do que as inferiores, o oposto do que ocorre na Terra. A causa desse aquecimento extremo estaria nas auroras intensas que circundam o planeta, um espetáculo cósmico que, ao invés de apenas iluminar, também eleva drasticamente sua temperatura.
Um planeta sem estrela, vagando no vazio
Diferente dos planetas tradicionais que orbitam uma estrela, o SIMP-0136 é um planeta errante, ou seja, viaja solitário pelo espaço, sem vínculo gravitacional com nenhum sistema solar. Astrônomos acreditam que esses corpos celestes podem ter se formado de forma isolada ou sido expulsos de seus sistemas de origem.
Apesar de sua solidão cósmica, o SIMP-0136 não passa despercebido. Ele completa uma rotação em apenas 2,4 horas, o que facilitou a observação detalhada de sua superfície e atmosfera pelos instrumentos de alta precisão do James Webb.
Nuvens feitas de areia
Outro dado inusitado é a composição das nuvens do planeta: grãos de silicato, semelhantes à areia encontrada em praias terrestres. Na Terra, as nuvens são compostas por gotículas de água e cristais de gelo; já no SIMP-0136, o cenário é de poeira quente flutuando em um céu de fogo e magnetismo.
Segundo o astrônomo Evert Nasedkin, autor principal do estudo, “estas são algumas das medições mais precisas da atmosfera de qualquer objeto extrassolar até hoje, e a primeira vez que mudanças nas propriedades atmosféricas foram medidas diretamente”.
O mistério das auroras que aquecem
Ainda não se sabe exatamente como as auroras geram tamanha energia térmica, mas os cientistas acreditam que a interação entre partículas carregadas e o forte campo magnético do planeta pode estar liberando calor suficiente para criar a inversão térmica.
No caso da Terra e de Júpiter, as auroras são fenômenos luminosos, sem impacto térmico significativo. No entanto, em um ambiente sem estrela, como o de SIMP-0136, essa energia pode representar uma das principais fontes de calor atmosférico.
O papel do James Webb
Desde o seu lançamento, o Telescópio Espacial James Webb tem revolucionado a astronomia, permitindo observar fenômenos nunca antes registrados — de galáxias formadas logo após o Big Bang a planetas fora do Sistema Solar. Com sua sensibilidade infravermelha e resolução sem precedentes, o Webb vem abrindo novas portas para o estudo da formação planetária e dos mistérios do universo profundo.
Os cientistas afirmam que o estudo do SIMP-0136 é apenas o começo. “Ainda há muito a se compreender sobre os mecanismos atmosféricos desses mundos errantes”, reforça Nasedkin.
Enquanto novas observações são planejadas, o planeta continua seu trajeto solitário, vagando pelo espaço e sendo aquecido por suas próprias auroras, um espetáculo natural que mistura solidão cósmica e beleza incandescente.
Fonte: Astronomy & Astrophysics / Trinity College Dublin / NASA
Com informações do Telescópio Espacial James Webb (JWST).