Coluna – Dani Salomão |: o monstro pedófilo vive ao lado, ele encontra-se sempre a espreita cuidado

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Por: Dani Salomão.
As crianças vítimas de abuso sexual conhecem seu agressor, na maior parte dos casos é uma pessoa da própria família. O monstro que vive ao lado e a espreita.

Esqueça aquela ideia de que um pedófilo pode ser 100% estranho, que fica à espreita em um beco escuro. Um relatório da organização não governamental (ONG) World Vision estima que até 85 milhões de crianças e adolescentes, entre 2 e 17 anos, poderão se somar às vítimas de violência física, emocional e sexual nos próximos meses em todo o planeta. O número representa um aumento que pode variar de 20% a 32% da média anual das estatísticas oficiais. O confinamento em casa, essencial para conter a pandemia do novo coronavírus, acaba expondo essa população a uma maior incidência de violência doméstica.

“À medida que o coronavírus progride, milhões de pessoas se refugiam em suas casas para se proteger. Infelizmente, a casa não é um lugar seguro para todos, pois muitos membros da família precisam compartilhar esse espaço com a pessoa que os abusa.

Apesar dos números estarrecedores, os crimes de violência sexual estão entre os menos notificados à polícia pelas vítimas. “No Brasil. E o que leva a isso é uma série de questões: desde medo de retaliações dos agressores, medo de julgamento pelas pessoas, vergonha.

O termo violência sexual infanto-juvenil, inclui os crimes de abuso sexual intrafamiliar (quando o abuso ocorre dentro da família, sendo comum que ele se repita de geração em geração), extrafamiliar (quando ocorre fora do âmbito familiar, mas geralmente também provocado por alguém em quem a criança confia, como um vizinho, um amigo da família, ou um professor) e de exploração sexual comercial.

Todas essas violências são marcadas por uma relação de poder de um superior a um mais frágil. Pode-se fazer uso da força física e/ou de artifícios psicológicos como aliciamento, intimidação e sedução. No caso do abuso, ele costuma ocorrer na maioria das vezes dentro de um ambiente de fácil acesso à criança, onde já há um determinado nível de intimidade entre ela e o agressor.

Outro fato, desconstruir a ideia de que a vítima possa ser de alguma forma responsável pelo que lhe ocorreu é, então, um dos desafios no enfrentamento à violência sexual infantil. Outros obstáculos incluem a insuficiência de provas (poucos casos deixam vestígios físicos), a ausência de testemunhas (é algo que acontece dentro dentro de quatro paredes) e a proximidade do abusador (o qual, em muitos casos, é o provedor da família).

 

Como identificar uma situação de abuso

Na maioria dos casos, a vítima não apresenta marcas físicas que comprovem o que está acontecendo. Maus tratos podem ser um sinal, mas não o principal deles. O indicador mais importante é estar sempre  atento a mudança de comportamento da criança.

“ Mudança de humor: a criança se torna mais chorona, fica mais triste. Se ela era extrovertida, se torna mais introvertida. A que era tranquila, passa a ser agressiva na escola, bate nos colegas. A mudança de comportamento é sempre o primeiro indício de que algo está acontecendo com a criança.”

Confira outros sinais que podem caracterizar uma situação de abuso:

    1. Hipererotização: o corpo se torna uma via de comunicação. Ela toca no corpo, usa-o como mecanismo de sedução.
    2. Isolamento: a criança perde auto-estima e se torna insegura. Não quer mais brincar com os amigos nem sair de casa.
    3. Regressão no desenvolvimento: tanto cognitiva, quanto fisiológica. A criança volta a usar chupeta e a precisar de fralda, por exemplo;
    4. Existência de segredos: eles costumam ser indícios de chantagens que podem estar sendo feitas pelo abusador;
    5. Oscilações de humor;
    6. Perda de interesse nos estudos;
    7. Distúrbios alimentares;
    8. Conhecimento sexual impróprio para a idade;

O que fazer se notar sinais

  • Converse com a vítima: busque um ambiente apropriado. Se necessário, converse primeiro sobre assuntos diversos. Na hora da escuta, ouça e acolha seu relato de coração aberto, sem interrupções. Respeite o ritmo da criança e faça o mínimo de perguntas para não invalidar seu testemunho. A linguagem deve ser simples e clara. Recomenda-se usar as mesmas palavras que ela.
  • Jamais desconsidere os sentimentos da criança/adolescente com frases como “isso não foi nada”, “não precisa chorar”. Essas frases revivem sentimentos de dor, raiva, culpa e medo. Também não a trate como “coitadinha”, ela quer ser tratada com carinho, dignidade e respeito.
  • Reitere que ela não tem culpa pelo que ocorreu. Lembre-se de que é preciso coragem e determinação para uma criança/adolescente contar a um adulto que está sofrendo ou sofreu alguma violência. Diga a ela que, ao contar, agiu corretamente.
  • Explique à criança o que irá acontecer em seguida, como você irá proceder, ressaltando sempre que ela estará protegida.
  • Avalie entrar em contato com um membro da família. Em caso de abuso intrafamiliar, procure um membro não agressor, de preferência com o consentimento ou indicações da criança.
  • Denuncie.
  • Leve-a a uma avaliação e tratamento especializados.
  • Interrompa o contato entre ela e o possível abusador.
Saiba onde denunciar

Disque 100
É possível ligar de qualquer lugar do Brasil e funciona 24h. O sistema registra casos de violação de direitos humanos.

Aplicativo Proteja Brasil.
Outra maneira é baixar gratuitamente o aplicativo Proteja Brasil no celular (disponível para iOS e Android). Para registrar a denúncia, basta responder o formulário. A denúncia será recebida pela mesma central de atendimento do Disque 100.

Violência contra a mulher disque 180.

Fonte: Blog Olhar Digital/Agência Brasil.